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Ucrânia e Gaza mostram duas faces da política de Trump – 18/03/2025 – Opinião

Em um desses caprichos do processo histórico, esta terça-feira (18) pode ficar marcada como um dia em que o americano Donald Trump exibiu suas contradições interferindo nos dois principais conflitos em curso no mundo.

Na Guerra da Ucrânia, o presidente republicano seguiu o roteiro de recompensar a Rússia de Vladimir Putin e conversou com o líder autocrata ao telefone.

Na teoria, deveria convencê-lo a aceitar um cessar-fogo de 30 dias já acatado pela Ucrânia, em nome do início das conversas de paz. Obteve anuência para pausa temporária no bombardeio mútuo à infraestrutura energética e civil dos beligerantes.

Se a implementação do entendimento confirmar as impressões iniciais, será um avanço ante a carnificina e a destruição do conflito, que completava 1.119 dias enquanto os líderes americano e russo debatiam também itens da agenda comum, de projetos econômicos a um jogo de hóquei sobre o gelo entre seus países.

Não será simples. Ataques de lado a lado seguem intensos, e enquanto Trump postava suas platitudes sobre o telefonema, explosões eram ouvidas em Kiev.

Ainda que tenha deixado a Europa de lado por ora, provavelmente para reengajar-se com o continente em negociações posteriores envolvendo Putin, o republicano posa de pacificador e tem uma chance razoável de vender a imagem a sua base.

Como ela irá reagir à outra face de sua política externa, aquela que se volta de forma agressiva ao Oriente Médio, é incerto. O mandatário fez carreira pregando o isolacionismo americano e o fim do que chamava de guerras estúpidas —a seu tempo, os declinantes morticínios no Iraque, na Síria e no Afeganistão.

Agora, mudou novamente a chave. No fim de semana, determinou o “fogo do inferno” sobre os rebeldes houthis do Iêmen, grupo associado ao Irã que participa da conflagração disparada por seus aliados do Hamas palestino em outubro de 2023.

Forças americanas no mar Vermelho lançaram bombardeios contra os iemenitas —no pano de fundo, está a animosidade entre Washington e Teerã.

Seja como for, desta vez foram os houthis que acabaram levados a deixar a trégua que observavam nas operações, acompanhando o cessar-fogo entre o Estado judeu e os terroristas palestinos da Faixa de Gaza desde o fim de janeiro.

Também nesta terça, Trump concedeu o endosso público ao colapso desse arranjo, apoiando a decisão de Tel Aviv de retomar o bombardeio intenso a Gaza.

A motivação —o fato de que o Hamas protela a libertação dos reféns tomados— traz consigo o risco de essas vítimas acabarem perecendo. Agora, disse o premiê Binyamin Netanyahu, as conversas só ocorrerão “sob fogo”.

Trump já havia sugerido tornar Gaza um resort. Ali mostra hoje sua face belicosa, em aparente contraste com a benevolente na Europa. Como denominador comum, dois aliados autoritários.

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