O site do Escritório para Assuntos de Hong Kong, parte do Conselho de Estado, o ministério chinês, republicou na quinta (13) um texto do jornal Tai Kung Pao crítico à venda de 43 portos da empresa CK Hutchison, incluindo dois próximos ao canal do Panamá, para a americana BlackRock.
A CK Hutchison é de Li Ka-shing, bilionário de Hong Kong, região administrativa especial da China. O jornal, também da cidade, é ligado ao Partido Comunista. O artigo explicita o temor de Pequim de que a BlackRock eleve custos portuários ou ameace o transporte de exportações e importações chinesas.
A China responde por 21% do fluxo de carga no canal do Panamá, sublinha o texto, “tornando-o uma rota crucial entre a China e a América Latina”.
Ouvidos, exportadores brasileiros de commodities agrícolas e minerais afirmaram que seus embarques para a China não passam pelo Panamá, mas pelo cabo da Boa Esperança, na África.
“Se o canal for ‘americanizado’, os Estados Unidos, sem dúvida, vão usá-lo para fins políticos, implementando medidas que restrinjam o comércio chinês”, diz o artigo. “Se os EUA impuserem restrições seletivas de passagem, sobretaxas políticas ou outras barreiras, os custos de logística e a estabilidade da cadeia de suprimentos da China podem enfrentar riscos graves.”
Junto com os outros 41 portos, “enorme rede portuária”, prossegue a crítica, a BlackRock controlaria 10,4% dos terminais de contêineres no mundo. Isso permitiria “cooperar com os EUA na restrição das operações chinesas, aumentando custos e espremendo a China para fora do comércio marítimo global”.
O ataque chinês, ao ser reproduzido no site ligado ao Conselho de Estado, levou analistas a avaliar que a venda pode estar sob risco, com a pressão de Pequim para Li rever o negócio. A empresa, que anunciou o “acordo em princípio” no último dia 4, ainda não se manifestou.
“Diante de uma questão geopolítica e econômica tão significativa, as empresas envolvidas devem pensar cuidadosamente”, encerra o texto. “Elas devem entender a verdadeira natureza desse acordo, suas implicações e onde elas se posicionam sobre este assunto crucial.”