18 mar 2025, ter

Vídeo: Israel ataca Gaza e encerra cessar-fogo com o Hamas – 18/03/2025 – Mundo

O cessar-fogo entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza colapsou na madrugada desta terça (18), com ataques renovados do Estado judeu a posições do grupo terrorista na região que deixaram mais de 320 mortos.

A operação, segundo as IDF (Forças de Defesa de Israel, na sigla inglesa), irá continuar e se expandir além dos ataques aéreos até aqui.

Há sinal de novas ofensivas terrestres, após a saída parcial das forças de Tel Aviv do território árabe a partir da trégua que entrou em vigor em 19 de janeiro. Os militares ordenaram a retirada de moradores de algumas áreas da faixa, sugerindo novos ataques.

Houve a usual troca de acusações acerca das responsabilidades. O Hamas afirmou que os ataques foram uma violação unilateral do cessar-fogo, e Israel disse que os terroristas “se recusaram repetidamente a soltar nossos reféns e rejeitaram todas as propostas recebidas pelo enviado do presidente dos Estados Unidos, Steve Witkoff”.

Segundo o Hamas, ao menos 326 pessoas morreram nos ataques, que começaram às 2h (20h de segunda em Brasília). Houve ataques em todos os pontos principais da região: a capital homônima, Deir al-Balah, Khan Yunis e Rafah.

O ataque foi recebido com protestos pelo Kremlin, que expressou preocupação com a estabilidade regional. Já o alto comissário da ONU para direitos humanos, Volker Turk, se disse “horrorizado” com a ação de Israel.

Há uma movimentação de negociadores americanos e árabes para tentar ressuscitar a trégua, o que não pode ser descartado, mas o fato é que o colapso coloca um grande ponto de interrogação sobre o futuro da região.

A instabilidade é visível em vários pontos: em Gaza, nas escaramuças recentes no Líbano, em novos ataques israelenses em sua ocupação de uma faixa no sul da Síria e no embate direto entre EUA e rebeldes houthis no mar Vermelho e no Iêmen.

Tudo aponta para a pressão de Donald Trump sobre o Irã, patrocinador dos rivais de Israel e de Washington no Oriente Médio, algo que será aplaudido pelo premiê Binyamin Netanyahu —cuja permanência no poder parece atrelada à sua capacidade de manter Israel em pé de guerra.

Israel vinha sinalizando que retomaria os ataques ao Hamas nas últimas semanas. No centro da crise há a questão do futuro político tanto do Hamas quanto do governo de Netanyahu.

Os radicais são colocados como carta fora do baralho em qualquer transição no território que comandam desde o cisma com a facção que governa a Cisjordânia, a Autoridade Nacional Palestina, em 2007. Foram massacrados militarmente, mas retém poderio como força de guerrilha.

Ao dificultar o prosseguimento dos termos do acordo com Tel Aviv, a chamada fase 2, o Hamas tenta ganhar tempo. Foi assim durante o processo de libertação inicial dos reféns, com ameaças de renovação das hostilidades frequentes.

Já Netanyahu faz o mesmo por outros motivos. Do ponto de vista doméstico, o fracasso em dar sequência ao processo de libertação dos reféns tomados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, ataque que disparou a guerra, o pressiona por um lado.

Do outro, a ultradireita que o sustenta no Parlamento cobra o endurecimento com os palestinos. O premiê ganhou musculatura com a volta de Trump ao poder, com seu plano delirante de remover os palestinos de Gaza para tornar as ruínas num empreendimento imobiliário à beira-mar.

Netanyahu vive também uma guerra interna contra o chefe do Shin Bet, o serviço de segurança interna que participou com a IDF da nova operação, Ronen Bar. O premiê chegou a anunciar que recomendou a remoção do diretor por falta de confiança.

As Forças Armadas também estão num processo de transição, com um novo chefe de Estado-Maior, Eyal Zamir. A ideia de retomar ações grandes com suas forças descansadas após dois meses pode ser tentadora para suas pretensões.

Tudo isso embaralhou as cartas na região, forçando atores como países árabes a se mexer, pressionados por Washington para receber boa parte dos mais de 2 milhões de moradores de Gaza. Egito e Jordânia protestaram e o sauditas buscaram algum protagonismo, mas até aqui nada aconteceu além de propostas de reconstrução vagas.

Na dita fase 1, foram libertados 25 dos 251 reféns tomados no 7 de Outubro. Outros 8 corpos foram liberados pelo Hamas. Ainda há 59 cativos em Gaza, um número incerto deles de mortos. Em troca, até aqui cerca de 2.000 palestinos foram soltos de prisões em Israel.

A fase 2 previa o fim da desocupação de Gaza pelos israelenses, mas eles seguem em faixas fronteiriças, e a libertação dos reféns remanescentes. Tel Aviv chegou a propor no começo do mês uma nova trégua, de 50 dias, para fazer tais arranjos, mas o Hamas rejeitou.

Netanyahu passou a segurar a entrada de ajuda humanitária na região, piorando ainda mais a situação já dramática na faixa. De lado a lado, houve testes de estresse, com ataques pontuais. Agora, a região volta à incerteza.

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