São Paulo
Conheci Xuxa no começo dos anos 1980. Vi sua parceria com Marlene Mattos nascer, pelas mãos do diretor Maurício Sherman (1931-2019) e seu sucesso crescer. Em pouco tempo, Maria da Graça Meneghel virou uma grande estrela.
Algum tempo depois, fui contratada por Marlene para ser roteirista de um dos programas de Xuxa. Confesso que nessa época, mesmo trabalhando para a apresentadora, eu não era sua fã. Eu via seu carisma absurdo, capaz de mobilizar multidões, causar histeria e faturar milhões, mas não partilhava daquela admiração que as pessoas sentiam por ela.
A sensação que eu tinha era que a falta de afeto era recíproca e que Xuxa também não gostava muito de mim, especialmente por eu ter sido indicada pela Marlene.
Décadas depois, tudo mudou. O pico do sucesso passou, os grandes shows acabaram, os baixinhos cresceram, o mundo era outro.
Xuxa amadureceu e inverteu o eixo de observação: ao invés de ser o eterno centro das atenções, passou a prestar atenção no mundo ao seu redor.
Ela se transformou em uma mulher interessante, aberta, plena. Foi nessa época que reencontrei a apresentadora num programa de viagens que apresentava com Fabio Porchat, o Porta Afora.
Fiquei preocupada antes da gravação, temendo que ela me tratasse mal ou pior, se recusasse a gravar o programa por minha causa. Nada. Ela foi super gentil, me tratou bem e, se um dia houve alguma mágoa entre nós, o tempo apagou.
Hoje, vejo o quanto a maturidade (e o Juno!) fez bem a ela, em todos os sentidos. Ela continua sendo querida, respeitada e celebrada. Além das séries sobre sua história, sobre as paquitas, ela ganhou um quadro no Fantástico (Globo), o Deu Petch, que foi sucesso de audiência.
Seu amor verdadeiro, antigo e eterno pelos animais emocionou o Brasil. Agora, Xuxa surpreende mais uma vez ao admitir publicamente que fez um implante capilar, há cerca de três semanas, para lidar com sua alopecia androgenética, condição que deixa os fios de cabelo mais finos e ralos, expondo parte do couro cabeludo.
Ela não precisava ter contado que sofria de alopecia. E poderia ter feito qualquer tratamento ou procedimento sem expor sua decisão publicamente. Mas ela revelou tanto o diagnóstico como a solução, o que demanda coragem e sororidade.
Coragem porque é sempre difícil para qualquer pessoa expor suas próprias vulnerabilidades, ainda mais para uma mulher bonita e famosa como ela. Desde o começo de 2025, quando a apresentadora revelou que sofria de alopecia androgenética, ela ajudou a ampliar o debate sobre a queda de cabelo em mulheres, especialmente depois da menopausa.
E sororidade porque, ao falar de sua decisão, certamente vai incentivar outras mulheres a pensar no implante capilar como uma possibilidade. Quanto mais se falar sobre o tema, mais se divulgar o procedimento, mais haverá procura no mercado, mais acessível poderá se tornar o implante.
Espero que o tratamento seja um sucesso, que Xuxa fique feliz e curta seu “cabelinho legal”, como ela sempre quis ter.
Não importa que algumas pessoas achem que isso é algo pequeno, mero capricho da vaidade de uma celebridade. O que importa é que, numa sociedade onde todo mundo mente para manter uma imagem de perfeição e superioridade, Xuxa fez questão de expor a verdade e se mostrar humana.
E só por isso eu já posso me dizer uma admiradora dessa grande mulher.